Histórias de vida por trás do Parfor

Programa chega aos seus 16 anos com mais de 65 mil profissionais formados. Participantes relatam relevância da iniciativa da CAPES

Transformador de vidas e promotor da ascensão profissional. É assim que os egressos do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) descrevem os impactos desta iniciativa da CAPES, que completa 16 anos de existência. Essa política pública, com 17,4 mil matriculados atualmente em 138 instituições e que já formou 65 mil professores, oferta cursos a educadores que atuam nas redes públicas, mas não têm graduação específica em suas disciplinas.

As histórias dos egressos Mario Jorge Lima da Silva e Maria Antônia da Silva de Castro foram contadas por eles mesmos durante a quarta edição do Encontro Nacional do Parfor, realizado em Brasília de 21 a 23 de maio. Os mais de 200 participantes do evento também puderam ouvir da professora do programa, Fernanda de Aragão Quintino, os relatos de sucesso que estão em um livro. O Parfor também foi dissertação de mestrado e agora é o tema de doutorado de Aline Botelho. Veja o que conta cada um:

“Oportunidade incrível de ter conhecimento do mundo”
Professor de educação escolar indígena em Itamarati, no extremo oeste do Amazonas e a 980 km de Manaus, Mario Jorge Lima da Silva formou-se em Pedagogia pelo Parfor em 2021 na universidade do estado. Atualmente, ele, que aprendeu a língua dos povos tradicionais da região, coordena 45 professores de três etnias em escolas da rede municipal.

“O Parfor me proporcionou uma oportunidade incrível de ter esse conhecimento de mundo e poder ajudar também as pessoas que necessitam”, afirma. Mario conta que, antes do programa, atuava desde 2010 em sala de aula, da pré-escola ao nono ano do ensino fundamental, mas sua formação era apenas de nível médio. Para chegar até a escola, levava um dia de viagem de barco.

Se formar pelo Parfor, segundo ele, foi fundamental na organização das aulas para atender turmas multisseriadas. “Foi um avanço muito grande porque, a partir daí, eu tive a noção de como fazer um planejamento adequado para que os alunos tenham uma aprendizagem de qualidade”.

“Somos voz na cidade”
Com atuação em sala de aula desde os 19 anos, Maria Antonia da Silva de Castro tinha como formação o ensino médio à época. Em 2016, o Parfor chegou até Itamarati por meio da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e foi a oportunidade que ela teve de cursar graduação em Pedagogia. “O programa fez uma transformação imensa tanto em nossas vidas quanto na própria comunidade”, ressalta.

Ela conta que, hoje, na região, tem gestores da educação que são egressos do Parfor. “Somos voz na cidade. O programa fez uma diferença gigantesca na história econômica e cultural do nosso município”, enfatiza.

Professora concursada da prefeitura local, Maria Antônia atua na educação infantil. “O Parfor não trouxe só conhecimento, mas as ferramentas necessárias que eu precisava para atuar de forma consciente, oferecendo tudo que os alunos necessitam”, avalia. “O nível de consciência de cada professor mudou significativamente, fazendo com que o nosso trabalho melhorasse na sala de aula. Hoje, estamos formando os futuros professores”, completa.

“Principal política pública de formação”
Há oito anos, Fernanda de Aragão Quintino é professora do Parfor pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Para ela, o programa tem contribuído para a profissionalização dos professores que atuam em sala de aula há mais de 20 anos na região Amazônica, sem a formação necessária e sem as ferramentas adequadas para educar e ensinar os alunos de acordo com as demandas atuais.

“O Parfor tem sido, no Amazonas, a principal fonte de formação para os professores, principalmente no interior do estado onde não há campi universitários e onde, muitas vezes, faltam formados para atuar na educação infantil. Então, o programa tem sido para nós a principal política pública de formação que já atingiu nosso país e o nosso estado. Dos 62 municípios, apenas três ainda não receberam turmas do Parfor”, descreve.

Fernanda escreveu um livro sobre o programa, intitulado “Desafios Amazônicos e a transformação de professores”, que relata o trabalho de formação da primeira turma de pedagogos da cidade de Itamarati, no extremo oeste do Amazonas. A obra registra as experiências antes, durante e após o Parfor de 42 professores que participaram do curso. “É o primeiro registro de professores da etnia Deni e Kanamari, com textos em suas línguas maternas”.

“O programa é uma travessia”
Formada em Pedagogia pelo programa na Universidade Federal Rural Fluminense (UFRRJ), Aline Botelho estudou a política da CAPES em sua dissertação de mestrado, que tem como tema “A trajetória de mulheres Pretas Egressas do Parfor”, pela mesma instituição. “São quatro egressas que tiveram a vida pessoal transformada e alcançaram ascensão profissional”, descreve.

Agora, no doutorado, ela vai pesquisar o Parfor Equidade, que tem o objetivo de formar professores em licenciaturas específicas e pedagogos para atender redes públicas e comunitárias que têm educação escolar indígena, quilombola e do campo, educação especial inclusiva e educação bilíngue para surdos. Aline é professora da rede municipal de educação da capital fluminense e coordenadora de Promoção de Igualdade Racial de Araruama, também no Rio de Janeiro.

Ela considera o Parfor com uma travessia. “O Programa me levou para um outro lado que não conhecia. Me descobri enquanto mulher negra. Fiz uma retomada racial e me reconheci também como uma pessoa mais crítica, por conta de todo o encaminhamento que os professores faziam conosco. E foi nesse processo que tive uma ascensão profissional e financeira”, relata.

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*CGCOM/CAPES